quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

ESCOLAS DE SAMBA












No desfile da Portela em 2008, uma alegoria de impacto: um bebê desnutrido se transoformava em outro saudável num certo momento da letra do samba.

Vamos falar de um assunto que gosto muito: Carnaval. No caso, em particular, Escolas de Samba. Pode parecer estranho, afinal, sou praticamente um peixe fora d´água, nunca morei no Rio, nunca freqüentei quadra das Escolas e só fui pessoalmente à Sapucaí em uma única oportunidade. Mas sempre gostei da cultura dos desfiles, dos sambas-enredo e da pujança dessa manifestação cultural. Assim, fui “plugado” nesse mundo via “ponto de luz na imensidão” (ou seja, a TV, segundo uma descrição poética do último enredo que o Joãosinho Trinta fez na Beija-Flor), que há um bom tempo já faz as transmissões que mostrando um pouco daquele espetáculo, levando-o mesmo a nós que estávamos tão longe de tudo aquilo que acontecia. Naquela época, anos 80, era difícil ter notícias do mundo das Escolas... de vez em quando uma nota nos jornais (em particular nos do Rio, tais como “O Globo” e “Jornal do Brasil”), às vezes uma matéria de meia página ou página inteira, o que já era pra festejar. Em janeiro, nos telejornais locais cariocas, exibiam matérias mostrando algo dos preparativos nos barracões e dava para ter uma pálida idéia do que as Escolas estavam preparando. Mas as notícias eram precárias, tudo só seria revelado durante o deslfile em si, no dia do carnaval (lembrem-se, até 1983 os desfiles do grupo principal era num só dia, domingo; daí veio o sambódromo em 1984, com a novidade de dois dias). Mas a internet, como todos sabem, revolucionou nosso acesso à informação. E não poderia ser diferente com relação ao samba. Hoje em dia, temos acesso on-line às informações em questão de minutos ou até segundos. Há sites ou colunas especializadas, com jornalistas e aficcionados que, para nossa total satisfação e com todo nosso agradecimento, fazem nossa ligação com o agitado mundo das agremiações. Se alguém quiser conferir, eu acesso quase que diariamente três sites que me mantêm informado:
Abre parênteses: nesse último site, de “O Dia”, estão hospedados os blogs do Milton Cunha, um agitador do carnaval par excellence, atual carnavalesco da Viradouro, ao qual desejo muito “axé”, e o do Daniel Pereira, um jovem sambista do qual não tinha referências anteriores, embora o pessoal do meio deva saber de quem se trata, do qual admiro o bom-humor e franqueza. Fecha parênteses. E uma coisa importante: o mundo das Escolas de Samba não se limita ao Carnaval e nem muito menos às semanas que antecedem os desfiles propriamente ditos. Ele fervilha o ano todo, as agremiações têm atividade para todos os meses. Por exemplo, mal acaba o desfile na madrugada de segunda pra terça (nem abertos ainda os envelopes) e as negociações pro próximo ano já começam. Às vezes, nem isso: alguns já anunciam mudanças para o ano seguinte com a Escola ainda na concentração no presente ano. E há todo um calendário, em parte formal, em parte informal, estabelecido para o decorrer do ano: as definições de quem fica e de quem muda de escola, a determinação dos enredos, o sorteio da ordem dos desfiles (que, para vocês terem idéia, tem ocorrido em junho!), o processo de escolha do samba enredo, que leva várias semanas e empolga as torcidas, a gravação do disco oficial lá por volta de outubro, a apresentação dos protótipos de fantasias (que nem todas Escolas fazem, mas que tem ocasião de grandes festas) o trabalho duro das alegorias e fantasias nos meses da virada do ano. Além de festas que cada agremiação opta por fazer, tais como as feijoadas mensais ou encontros com co-irmãs que são chamadas para festas conjuntas na quadra de uma delas. Ou seja, é todo um mundo com vida própria - e quem é de fora e nunca parou para prestar atenção, nem imagina que existe ou que funcione assim. É verdade que nem tudo são flores: o mundo competitivo e a realidade de grandes contrastes sociais provocam problemas, mal entendidos e suspeitas de ligações com contravenções e crimes. Mas esse lado obscuro é a exceção à regra. A comunidade tem sobretudo um caráter inclusivo e toda uma forma festiva de viver e gozar a vida naquilo que ela tem de melhor. “Gira, gira, meu povo; deixe a vida girar; no final desta gira; só o amor encontrar” – já dizia o belíssimo samba-enredo que Jonas, Lino Roberto e Tião Grande fizeram para a Vila Isabel em 1981. Mas esse post está ficando muito extenso... de qualquer forma, ele é apenas um manifesto inicial de amor às Escolas de Samba. E, aos poucos, vocês verão que elas não representam apenas ilusões e dinheiro “jogado fora” em fantasias que acabam na quarta-feira-de-cinzas (ou após o desfile das campeãs, no sábado seguinte, para as felizardas). As Escolas têm uma história cultural riquíssima e foi do encontro da cultura popular delas com acadêmicos da Belas-Artes que se consolidou uma manifestação tão importante que conseguiu revolucionar a forma de entender a própria História do Brasil. Mas essa já é uma outra história... aguardem e chegaremos lá!

2 comentários:

Unknown disse...

Dica prá quem gosta de samba: http://www.vermutecomamendoim.com/

Acho que vcs vão gostar!

Beijo.

ERIC disse...

MARCIA: Ótima indicação! Quem não for doente da cabeça, nem doente do pé, irá curtir acessar sua dica. Beijão!