segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

20 DE JANEIRO - DIA DE SÃO SEBASTIÃO

Amanhã é feriado na cidade do Rio de Janeiro por ser dia do seu padroeiro, São Sebastião. Nesse ano, feriadão extendido, pois cai numa terça-feira. Já fui católico praticante até a adolescência, mas desde então não sou mais. Isso não me impede de admirar alguns santos oriundos da cultura cristã-católica, pois, antes de tudo, eles foram pessoas como nós e representam grandes arquétipos, cujo estudo só pode ser benéfico para nosso auto-conhecimento. Entre essas personalidades que admiro está São Sebastião, que sempre contou com grande devoção no Brasil; nos cultos de influência afro-brasileira, foi sincretizado com o orixá Oxóssi ou mesmo com Obaluayê-Omolu; juntamente com Nossa Sra. da Imaculada Conceição, é patrono da Portela, escola de samba que todos os anos, em 20 de janeiro, realiza um dia inteiro de festas religiosas e profanas em sua homenagem. Segundo sua hagiografia, teria nascido na segunda metade do século III d.C.; integrou o exército romano, no qual se destacou rapidamente, tornando-se um dos oficiais mais importantes dos Imperadores Diocleciano e Maximiano (ambos dividiram a regência do Império nessa época). Só que havia uma pedra no meio do caminho: Sebastião era cristão e viveu numa época ainda de grande perseguição. Era um firme praticante de sua fé; denunciado ao Imperador, recusou-se a abjurar, tendo sido condenado a morrer por flechadas – situação que foi imortalizada na sua iconografia.

Para ilustrar esse post, escolhi uma expressiva pintura de Guido Reni, que se encontra no Museo del Prado, Madrid (foto do acervo pessoal, tirada in loco pelo blogueiro).

Curiosamente, ele não morreu dessa forma: seu corpo cravado de flechas foi miraculosamente tratado por uma piedosa cristã, Santa Irene (uma fiel que também foi canonizada). Totalmente restabelecido, Sebastião, para total espanto do Imperador, apresentou-se novamente diante dele, defendendo seus ideais; dessa vez, foi açoitado até a morte. É considerado o protetor contra a peste e epidemias. Mas há controvérsias: o lado “B” da história sustenta que a morte de Sebastião teria sido o ato final de uma trágica trama de paixão e ódio entre ele e o Imperador – por essa razão, ao arrepio da Santa Madra(sta) Igreja, o santo foi tomado como padroeiro dos homossexuais e, por extensão, dos marginalizados em geral. De qualquer forma, mesmo os dados canônicos são incertos – daí ser correto usar exatamente o termo hagiografia, pois não há como falar em biografia histórica. De forma surpreendente e, a princípio, incompreensível, a iconografia clássica do santo acabou sendo utilizada com um viés sexual, erotizando seu martírio. Alguns dos inúmeros quadros que lhe foram dedicadas (e ele foi um dos personagens religiosos mais retratados na história da pintura) chegam a desconcertar pela mistura de dor e sedução. Mas, depois de Freud, não há o que não possa ser explicado. E essa sexualização se disseminou no imaginário popular - vejam só, me lembro até que o Paulo Ricardo pós-RPM fez um álbum intitulado “O amor me escolheu”, no qual aparece na capa caracterizado como São Sebastião...

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