sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ECOS DA ÍNDIA III

Vamos, então, aos primeiros relatos de aventuras pelas quais o Luís passou nesse mergulho ayurvédico. Ele aportou na Índia entre o Natal e o Ano Novo de 2008, com destino à sua primeira estada-base: Kannur (o ponto vermelho no mapa de orientação reproduzido logo abaixo) é um distrito que fica localizado no estado de Kerala e constitui-se um dos berços da ayurveda. Para chegar a esse destino final, ele teve de viajar 42 horas! Ou seja, uma viagem de imersão como essa à “Índia profunda” requer muita disposição física e vontade inabalável - aliás, duas coisas que o nosso enviado especial têm demonstrado em todos os momentos dessa expedição. Foi uma verdadeira jornada e a última etapa, por exemplo, foi cumprida num microônibus, em meio a caminhos de trânsito caótico; ele se sentiu dentro de uma incrível experiência virtual, povoada, em suas próprias palavras, por “motos-richkshaws, caminhoes, vacas, onibus escolares, linhas de trens o tempo todo, carros indianos parecendo russos.... todo tipo de pedestre na pista...”. E faz a consideração que os indianos devem estar entre os melhores motoristas do mundo, pois, mesmo nessa babel de deslocamentos, não presenciou simplesmente nenhum acidente! Por fim, entre mortos e feridos, salvaram-se todos: a tropa brasileira chegou ilesa a seu destino. Já estabelecido em terra firme, somos brindados, com suas primeiras impressões: diz que o contato inicial com o ambiente produz um grande impacto, pois definitivamente não parece familiar a nada que nós, ocidentais, pensamos conhecer a respeito do oriente. Nem mesmo viagens anteriores a lugares distantes no “interiorzão” brasileiro ajudaram tanto a prepará-lo – nem muito menos se informar por meio de guias turísticos, de imagens de cinema e documentários. Claro que se pode ter uma narrativa mais vívida por meio de testemunhos de pessoas que já foram para lá, isso coloca a imaginação para funcionar, mas ainda fica ausente o principal: o contato dos sentidos com a realidade como ela é. E essa realidade indiana, ousando por minha conta a traduzir as impressões do Luís, impõe uma “violência poética” como forma de pedágio para se penetrar naquele mundo insuspeito e totalmente alheio aos nossos hábitos. Sendo um viajante sem muitas reservas que possam atrapalhar sua adaptação ao habitat, apesar de um estranhamento inicial, ele logo se adaptou da forma como um estrangeiro flexível pode fazer. Mas nem todos reagem de forma tão mimética em tão novas condições: ele conta que alguns integrantes do grupo “piraram”, entrando numa espécie de curto-circuito. Nesse ambiente que pede capacidade de adaptação, no entanto, ele foi enfático ao apontar uma característica essencial dos indianos: a alegria! Segundo diz, a alegria torna-se algo essencial para se viver e conviver num contexto de condições tão adversas – e eu, viajando nas palavras do Luís, penso que talvez seja “uma alegria difícil, mas que se chama alegria”, só para utilizar uma frase de Clarice Lispector, escrita na epígrafe de seu livro “A Paixão Segundo G.H”. Voltando aos indianos, eles são pessoas gentis, sempre recebendo os outros com um sorriso e fazendo da sua condição, seja lá qual for ela, um motivo de contetamento de viver. E, num conselho de grande sabedoria genuinamente oriunda de sua experiência, o Luís dá a receita para nós, interessados em também ir à Índia algum dia: o segredo é “se entregar” – o que me lembrou uma famosa declaração, novamente de Clarice Lispector: “renda-se, como eu me rendi; mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei; não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Discorrendo sobre dados mais concretos desse realidade, ele informa que Kannur (acima, uma vista de uma praia, em foto retirada do site oficial) é uma cidade pequena, totalmente inserida na sua tradição ayurvédica, com grande parte de sua vida voltada para essa vocação para a saúde e a terapêutica, havendo muitos médicos, farmácias, lojas de utensílios especializados... percebe-se que esse é o próprio ethos do local, e todos, de alguma forma, estão inseridos nessa cadeia de conhecimentos, através do qual vivem/sobrevivem. O clima é tropicalíssimo: mesmo em pleno inverno, a temperatura era de 33º celsius! Esse fato me pareceu um certo atrativo do local, pois prefiro o verão ao inverno e temperaturas extremas “para cima” às “para baixo”. Para nos ajudar a se situar melhor, fui ao google buscar outras informações a respeito de Kannnur e descobri que a cidade, que está à margens do Mar da Arábia, litoral sudoeste indiano, foi um importante porto de contato e trocas comerciais com a Arábia e a Pérsia; foi também o quartel geral militar para a costa oeste, durante o domínio do Império Britânico – naquela época “colonial”, era chamada pelos ingleses de Cannanore (assim como Mumbai foi chamada de Bombaim no mesmo período). Portanto, teve um papel historicamente relevante, embora, como disse o Luís, a cidade em si seja pequena. A quem se interessar, dados gerais podem ser obtidos diretamente no site oficial do distrito: http://kannur.nic.in/. No próximo post, vamos comentar o cotidiano das primeiras semanas de curso e da vida do Luís naquela localidade.

2 comentários:

Wander disse...

uma pequena vila de 2 milhões de habitantes? rs, segundo o site oficial, mas boas informações

caro, retire essa verificação de palavras do blog, não precisa

ERIC disse...

WANDER: No site oficial, a primeira informação que temos é que "Kannur district derived its name from the location of its headquarters at Kannur town" - ou seja, há Kannur "distrito" e Kannur "cidade", que é o "quartel-general", algo como a capital do distrito. A informação populacional, de 2,2 milhões de pessoas, se refere ao DISTRITO inteiro. E esse contingente está pulverizado: o distrito é dividido administrativamente em três grandes divisões (que eles chamam de "taluk") que são as de THALIPARMBA , KANNUR e THALASSERY, em torno das quais estão, respectivamente, 48, 34 e 47 vilas, que são as unidades habitacionais básicas. Além disso, metade da população vive em zona rural. Ou seja, a cidade de Kannur propriamente dita de fato não é grande, tem bem menos que 2 milhões de habitantes (só não sei quanto, pois no site não há censo por taluk/cidade/vila).