sábado, 31 de janeiro de 2009
"Hit Parade" x "MÚSICA": diferenças dos marcadores
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
"GUERNICA", de PABLO PICASSO - I : a cidade e os fatos
Por sua vez, os direitistas - englobando os clássicos setores “tradicionalistas”, tais como os monarquistas, católicos e militares - foram apoiados pela Alemanha e a Itália, que reconheceram o governo instalado por Francisco Franco em 1º de outubro de 1936, ainda com a Guerra Civil recém-iniciada e em pleno andamento – esta seria oficialmente encerrada apenas em março de 1939, com a instalação do regime autoritário do “generalíssimo” Franco, que perdurou até seu falecimento, em 1975. No pós-guerra, esse regime ditatorial sufocou toda oposição e, ao invés de buscar uma reconstrução nacional que contasse com a união de vencedores e vencidos, não abdicou da perseguição e deixou um rastro de execuções dos derrotados. Pois bem, nesse obscuro jogo de poderes, aviões alemães (com participação italiana), em apoio a Franco, bombardearam a cidade espanhola de Guernica, na Província Basca, em 26 de abril de 1937. É difícil falar em número de vítimas; em pesquisas que efetuei, mesmo a população da cidade não é precisamente determinada (podemos supor 5.000 habitantes como número razoável, de qualquer forma, todas as fontes concordam ser menos de 10.000); a estimativa de mortos, por sua vez, varia de cerca de 120 pessoas (fontes tendenciosamente “direitistas”) a 1.650 ou ainda mais (fontes tendenciosamente “esquerdistas”). Independentemente da controvérsia de números, a destrição se abateu sobre a cidade e criou um imbróglio no qual nem Franco e nem nazistas queriam assumir a culpa.
Na época, foi muito propagado o fato de a localidade não ter nenhuma relevância militar, o que causou estupor na comunidade internacional; mas o lado “direitista” da história argumenta que a região era de indústria de armamentos bélicos, que seriam o alvo do bombardeio, sendo que a parte civil havia sido atingida “por acidente”. O comandante-chefe alemão Herman Goering, posteriormente, nos julgamentos de Nuremberg, em 1946, mesmo não assumindo culpa por Guernica, reconheceu que a Guerra na Espanha foi utilizada como campo de teste para a aviação alemã obter experiência. Podemos dizer, portanto, que Guernica foi um caso macabro de tubo-de-ensaio. E esse não havia sido o primeiro desses ataques: embora seja pouco comentado atualmente, outra cidade basca, Durango, havia sido bombardeada, alegadamente com cerca de 300 mortos. Chega a ser lastimavelmente irônico que essa ação de destruição franquista, tornada símbolo da violência na Guerra Civil Espanhola, tenha ocorrido exatamente numa província na qual “mais de metade da sua população apoiou de armas na mão a opção franquista”, conforme apontou o acadêmico basco Mikel Azurmendi. Infelizmente, o principal legado desse “teste de laboratório” foi o desencadeamento dos bombardeios maciços, durante a II Guerra Mundial, englobando mesmo alvos civis com devastadora “eficiência” – algo que se voltou contra os próprios alemães, como demonstraria a ação anglo-americana sobre Dresden, em fevereiro de 1945. Antes mesmo da imortal obra de Picasso, o grande responsável para que os fatos de Guernica fossem conhecidos pelo mundo inteiro foi o jornalista George Steer, correspondente de guerra do diário londrino “The Times”, que chegou à cidade algumas horas após o bombardeio e telegrafou, na mesma noite, uma matéria que foi publicada no dia seguinte (ou seja, 27/04/1937) naquele jornal e no “The New York Times”, causando instantânea mobilização internacional. A matéria teve o enunciativo título de “A Tragédia de Guernica - Cidade Destruída em Ataque Aéreo Relato de uma Testemunha Ocular”. ECOS DA ÍNDIA IV

(ambiental, sonora, visual). Talvez pela mistura do calor com adomingo, 25 de janeiro de 2009
OUVINDO NA CHUVA - 25/01/09 - B´ROCK
Hoje é domingo, acabei de almoçar e tomar banho e começa uma boa chuva lá fora, o que vai atrasar meu passeio pela cidade - curto muito andar nos dias de folga. De qualquer forma, sempre podemos contar com a música. Tenho uma antologia em três volumes chamada "Bach to New Wave", só com músicas nacionais. Num futuro post prometo comentar a inadequação desse título, mas no momento basta falar que, na verdade, a antologia trata do nosso velho e bom B´Rock. Para quem não viveu os anos 80, vou traduzir: foi o boom que a forma brasileira de fazer rock viveu naquela década. Eu estava ouvindo o volume 3, que tem doze músicas variadas que vão de "Um Amor de Verão" (1981-Rádio Taxi) até "Uma Barata Chamada Kafka" (1989-Inimigos do Rei). Entre elas, a irreverente "Taca a Mãe Pra Ver se Quica" (1985-Dr. Silvana & Cia), a poética "Como uma Onda no Mar" (1983-Lulu Santos) e um dos maiores sucessos da época, "Tudo Pode Mudar" (1985-Metrô), aquela música em que a vocalista Virgínia fica filosofando sobre a espera do amor ("...e no balanço das horas tudo pode mudar... acho que ele não vem, que ele não vem não, mas será que ele virá" ). Entre as outras faixas, uma que gosto muito é "A vida tem dessas coisas" (1983) que não foi o maior sucesso do Ritchie (posição que cabe a "Menina Veneno", claro). No entanto, a música que mais estava com vontade de ouvir - e tive de fazê-lo fora do cd da antologia - foi "Telefone", da Gang 90 & Absurdettes (alguém lembra disso?!) - lançada no mesmo álbum de "Nosso Louco Amor" (música muito tocada porque foi tema de abertura da novela homônima). "Telefone" tem um ritmo envolvente e me faz lembrar muito aquela época, mais de duas décadas e meia atrás! O tempo passa, o tempo voa... (inclusive pro Bamerindus!). Se quiserem matar as saudades, podem ir direto pro youtube: http://www.youtube.com/watch?v=_zmeRTUkCX0 . Em tempo, enquanto escrevi o post a chuva passou - ensaia sair até um solzinho.sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
ECOS DA ÍNDIA III
Para chegar a esse destino final, ele teve de viajar 42 horas! Ou seja, uma viagem de imersão como essa à “Índia profunda” requer muita disposição física e vontade inabalável - aliás, duas coisas que o nosso enviado especial têm demonstrado em todos os momentos dessa expedição. Foi uma verdadeira jornada e a última etapa, por exemplo, foi cumprida num microônibus, em meio a caminhos de trânsito caótico; ele se sentiu dentro de uma incrível experiência virtual, povoada, em suas próprias palavras, por “motos-richkshaws, caminhoes, vacas, onibus escolares, linhas de trens o tempo todo, carros indianos parecendo russos.... todo tipo de pedestre na pista...”. E faz a consideração que os indianos devem estar entre os melhores motoristas do mundo, pois, mesmo nessa babel de deslocamentos, não presenciou simplesmente nenhum acidente! Por fim, entre mortos e feridos, salvaram-se todos: a tropa brasileira chegou ilesa a seu destino. Já estabelecido em terra firme, somos brindados, com suas primeiras impressões: diz que o contato inicial com o ambiente produz um grande impacto, pois definitivamente não parece familiar a nada que nós, ocidentais, pensamos conhecer a respeito do oriente. Nem mesmo viagens anteriores a lugares distantes no “interiorzão” brasileiro ajudaram tanto a prepará-lo – nem muito menos se informar por meio de guias turísticos, de imagens de cinema e documentários. Claro que se pode ter uma narrativa mais vívida por meio de testemunhos de pessoas que já foram para lá, isso coloca a imaginação para funcionar, mas ainda fica ausente o principal: o contato dos sentidos com a realidade como ela é. E essa realidade indiana, ousando por minha conta a traduzir as impressões do Luís, impõe uma “violência poética” como forma de pedágio para se penetrar naquele mundo insuspeito e totalmente alheio aos nossos hábitos. Sendo um viajante sem muitas reservas que possam atrapalhar sua adaptação ao habitat, apesar de um estranhamento inicial, ele logo se adaptou da forma como um estrangeiro flexível pode fazer. Mas nem todos reagem de forma tão mimética em tão novas condições: ele conta que alguns integrantes do grupo “piraram”, entrando numa espécie de curto-circuito. Nesse ambiente que pede capacidade de adaptação, no entanto, ele foi enfático ao apontar uma característica essencial dos indianos: a alegria! Segundo diz, a alegria torna-se algo essencial para se viver e conviver num contexto de condições tão adversas – e eu, viajando nas palavras do Luís, penso que talvez seja “uma alegria difícil, mas que se chama alegria”, só para utilizar uma frase de Clarice Lispector, escrita na epígrafe de seu livro “A Paixão Segundo G.H”. Voltando aos indianos, eles são pessoas gentis, sempre recebendo os outros com um sorriso e fazendo da sua condição, seja lá qual for ela, um motivo de contetamento de viver. E, num conselho de grande sabedoria genuinamente oriunda de sua experiência, o Luís dá a receita para nós, interessados em também ir à Índia algum dia: o segredo é “se entregar” – o que me lembrou uma famosa declaração, novamente de Clarice Lispector: “renda-se, como eu me rendi; mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei; não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. 
Discorrendo sobre dados mais concretos desse realidade, ele informa que Kannur (acima, uma vista de uma praia, em foto retirada do site oficial) é uma cidade pequena, totalmente inserida na sua tradição ayurvédica, com grande parte de sua vida voltada para essa vocação para a saúde e a terapêutica, havendo muitos médicos, farmácias, lojas de utensílios especializados... percebe-se que esse é o próprio ethos do local, e todos, de alguma forma, estão inseridos nessa cadeia de conhecimentos, através do qual vivem/sobrevivem. O clima é tropicalíssimo: mesmo em pleno inverno, a temperatura era de 33º celsius! Esse fato me pareceu um certo atrativo do local, pois prefiro o verão ao inverno e temperaturas extremas “para cima” às “para baixo”. Para nos ajudar a se situar melhor, fui ao google buscar outras informações a respeito de Kannnur e descobri que a cidade, que está à margens do Mar da Arábia, litoral sudoeste indiano, foi um importante porto de contato e trocas comerciais com a Arábia e a Pérsia; foi também o quartel geral militar para a costa oeste, durante o domínio do Império Britânico – naquela época “colonial”, era chamada pelos ingleses de Cannanore (assim como Mumbai foi chamada de Bombaim no mesmo período). Portanto, teve um papel historicamente relevante, embora, como disse o Luís, a cidade em si seja pequena. A quem se interessar, dados gerais podem ser obtidos diretamente no site oficial do distrito: http://kannur.nic.in/. No próximo post, vamos comentar o cotidiano das primeiras semanas de curso e da vida do Luís naquela localidade.
HISTÓRIAS MÍNIMAS: "Engordando, não!"
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
"A HORA DA ESTRELA" - parte I
que oferece uma interface mais amigável para a primeira aproximação da do leitor. Ou seja: tem uma forma narrativa mais “fácil” de ser lida que os discursos desconcertantes dos textos mais pesados da autora. E tem um humor refinadíssimo, com o qual o personagem-narrador tenta, a todo custo, nos dar uma idéia de quem seja Macabéa, sem que nós, leitores, nos resumamos a sentir pena da protagonista. Afinal, não é fácil retratá-la com dignidade: ela é uma pessoa simplesmente nascida pelo avesso. Teve uma vida absolutamente infeliz mas, por falta de alcance da própria existência, não tem consciência disso (ou mesmo: sequer tem consciência no sentido pleno da palavra). Em entrevista à TV-Cultura, a cineasta Suzana Amaral, que dirigiu o famoso filme baseado nesse livro, num insight muito feliz, disse que considera Macabéa a versão feminina de Macunaíma, uma espécie de grande arquétipo nacional da “heroína-sem-nenhum-caráter”. Não no sentido de que ela seja “mau-caráter”, mas sim, entendendo-se que ela não tem a própria instrumentalidade para a composição de um caráter: é um ser alheio às categorias de julgamento, com uma "proto-consciência" que é uma massa informe. O livro pode ser entendido como uma espécie de biografia de Macabéa, mas, na verdade, temos poucos fatos a serem notados: ela basicamente sobrevive num mundo sem atrativos; tem um trabalho monótono e, nas horas vagas, pouco mais faz além de ter pensamentos irrelevantes e estranhos; se envolve com um rapaz chamado Olímpico, que, aliás, é desinteressado e a trata muito mal. Pois bem, uma colega de trabalho lhe indica uma cartomante – à qual Macabéa comparece, adquirindo momentaneamente uma possibilidade da felicidade, mas apenas como um preâmbulo do escatológico ápice da sua parca existência, que culmina em seu atropelamento (não importa eu ter falado o final da história, pois isso é indiferente: não se trata de uma trama de mistério de um dos livros da inventiva Agatha Christie). Mas, como estamos tratando de Clarice, os fatos pouco importam e são as "repercussões dos fatos" que devemos buscar para tecermos nossas histórias “verdadeiras” - ou melhor, nossas versões das possíveis histórias. Daí a questão de haver entendimentos diversos
sobre a autora. Por exemplo, foi em países estrangeiros, Estados Unidos e França, que foram iniciados os estudos de sua faceta como uma escritora feminista, fato que achei deveras curioso, pois esse jamais seria um dos focos principais que eu apontaria em sua obra. Mas, afinal, outros leitores e outros pontos de vista nos ajudam a atentar para aspectos que tínhamos subestimado inicialmente e esses estudos dela com uma faceta feminista também passaram a render frutos no Brasil. A versão cinematográfica de “A Hora da Estrela” deu notoriedade a Suzana Amaral e encontrou na atriz Marcélia Cartaxo uma Macabéa perfeita (não por acaso, a atriz ganhou o prêmio de interpretação no festival de Berlim), correndo mundo e sendo aplaudido efusivamente. O filme, certamente, ajudou a renovar e ampliar o interesse por Clarice Lispector, que sempre foi considerada como “hermética” – no entanto, penso que ela seja mais “diferente” que “difícil”. Atualmente, acredito que esse seja seu livro mais lido, mais até de que seu célebre volume de contos, “Laços de Família”. Num próximo post, vou comentar especificamente a respeito do episódio da cartomante, que é o ponto alto do livro, expondo uma interpretação minha a respeito do que se sucede nesse trecho. Até lá, procurem e leiam “A Hora da Estrela”. Inclusive, para quem nunca leu Clarice, juntamente com alguns contos em particular, é uma ótima forma de começar a penetrar o universo dessa autora única."A LENDA DAS SEREIAS, RAINHAS DO MAR": inesquecível samba-enredo.
Em 1976, o carnavalesco Fernando Pinto criou para o Império Serrano o enredo “A Lenda das Sereias, Rainhas do Mar”. Daquele, ele acabou não sendo tão bem sucedido quanto em muitas outras oportunidades (inclusive, já tinha sido campeão pelo próprio Império, em 1972, com o enredo “Alô, alô, Carmem Miranda”, e ainda seria novamente no futuro, pela Mocidade, em 1985, com o enredo “Ziriguidum 2001”), resultando num desfile mediano, que deixou a escola num 7º lugar. Numa época em que só haviam quatro escolas de samba consideradas “grandes” – Portela, Mangueira, Salgueiro e o próprio Império – era uma colocação que significava um verdadeiro fracasso do (discutível) ponto de vista de “obtenção de resultados”. Em tempo: Beija-Flor, Mocidade , Imperatriz e Vila Isabel não haviam ainda ganhado nenhum campeonato; foi exatamente em 1976 que a Beija-Flor surpreendeu e conquistou sua primeira vitória, justamente no ano da estréia de Joãosinho Trinta – então bicampeão pelo Salgueiro – na escola de Nilópolis.No entanto, esse enredo medianamente desenvolvido rendeu um belíssimo samba-enredo, que ficou no imaginário do Império e de todos os amantes desse gênero – e olha que estamos falando de uma Escola que conta, em seu cartel de composições, com sambas-enredo do quilate de “Aquarela Brasileira” (1964 e reeditado em 2004), “Cinco Bailes Tradicionais da História do Rio” (1965), “Heróis da Liberdade” (1969) e “Bumbum Paticumbum Prugurundum” (1982), entre vários outros.
Pois bem, não bastassem as virtudes originais desse samba, a então nova estrela em ascenção da MPB, Marisa Monte, gravou esse samba em seu primeiro álbum, lançado em 1989, com o nome de “A Lenda das Sereias”, em novo arranjo, com ritmo mais cadenciado e melódico, apenas excluindo a penúltima estrofe da letra – e eu me pergunto, será que a razão foi ela ser portelense e esse trecho fazer referências ao próprio Império Serrano (nas frases“Toda Corte engalanada” e “Vê o Império enamorado”)? De qualquer maneira, com a bela gravação da cantora, esse samba tornou-se conhecido de toda uma nova geração de ouvintes – e mesmo de contingentes de ouvintes das gerações anteriores, entre aqueles que não o conheciam por não serem ligados ao mundo das escolas de samba e nem saberem que ele havia existido.
Após a instituição da possibilidade de se realizar reedições de antigos sambas-enredo (antes de 2004 era proibido apresentar composições que não fossem inéditas), esse samba logo foi objeto de um novo desfile, no carnaval de 2006, pela escola de samba Inocentes de Belford Roxo, então no Grupo B, conseguindo atingir uma boa 3ª. colocação (ainda assim, insuficiente para ascender ao Grupo A, já que só a campeã subiria de grupo, que naquele ano foi a Império da Tijuca, curiosamente, também apresentando uma reedição: “Tijuca: cantos, recantos e encantos”, safra da própria escola do ano de 1986, quando havia desfilado no então Grupo 1-A, equivalente ao atual Grupo Especial, ficando em 12º lugar.)
Eis que agora, para o desfile de 2009, o próprio Império Serrano resolveu reeditar “A Lenda das Sereias, Rainhas do Mar” , apenas modificando – a pedido da atual carnavalesca responsável pelo desenvolvimento do enredo, Márcia Lávia – o título para “A Lenda das Sereias, Mistérios do Mar”. É uma tentativa de superar a grande responsabilidade que a escola terá nesse ano: abrir o desfile de domingo. Para se ter uma idéia da “maldição da abertura”, na era sambódromo, salvo engano meu, nenhuma escola que tenha subido de grupo no ano imediatamente anterior (como o caso do Império, que foi campeão do Grupo de Acesso ano passado, com enredo sobre Carmem Miranda) e que tenha sido a primeira escola a desfilar no domingo conseguiu a façanha de se manter no Grupo Especial (excetuando alguns poucos anos em que não houve descenso de nenhuma escola por acordos entre cartolas). Pelo ânimo que os amantes dos bons sambas manifestaram, em particular da comunidade imperiana, e também pelos primeiros resultados apresentados nos ensaios técnicos realizados pela escola na Marquês de Sapucaí, vê-se que o samba funciona como um grande trunfo – apesar dos temores (procedentes, diga-se de passagem) daqueles que pedem que o samba não seja acelerado demais, fugindo da sua característica melódica original, descaracterizando-o e, inclusive, deixando-o repetitivo demais (a letra é curta para os padrões atuais e, quanto mais rápido o andamento, mais vezes o samba será executado na Avenida).
Grande parte das autoridades do mundo do samba, aliás, apresenta críticas quanto à sistemática de reedição, argumentando que, por melhor que sejam os clássicos sambas-enredo do passado, reeditá-los só prejudicaria a própria continuidade do gênero, ao tirar espaço dos compositores atuais; para a ala de compositores, é sempre uma má notícia, pois significa ficar um carnaval inteiro sem compor e realizar a importante temporada de escolha do samba-enredo. Essa preocupação tem sua razão de ser, mas penso que reeditar um samba-enredo pode ter exatamente o efeito positivo ao funcionar como um exemplo que, atualizado por uma nova gravação, venha a inspirar toda uma nova geração de sambistas. E, aliás, basta dar uma olhada na safra desse ano: a despeito de uma média aceitável no nível das composições inéditas, o samba do Império Serrano, já com 32 anos nas costas, apresenta uma superioridade tão evidente que fica difícil defender o impedimento das reedições. Escolhidas com bom senso e sem exageros, elas só tem a somar para o nível dos desfiles atuais e futuros.
Resumo da ópera: aproveitando gancho do tema marinho da composição, podemos falar, com toda propriedade, que “A Lenda das Sereis, Rainhas do Mar” se trata de uma autêntica e perfeita pérola da música popular brasileira.
Em tempo: obviamente, eu não guardo de cabeça todas as colocações ano-a-ano; na medida do possível, para não cometer erros, me utilizo de fontes de consulta no assunto. Especificamente para os resultados, indico o seguinte site:
http://www.academiadosamba.com.br/memoriasamba/desfiles/index.htm
Para completar esse post da melhor forma, nada melhor do que apresentar a letra da música por ela mesma - para ouvir, basta buscar no youtube. Na foto, uma visão geral do desfile original, de 1976.
“A LENDA DAS SEREIAS, RAINHAS DO MAR”
Compositores: Vicente Mattos, Dinoel e Arlindo Velloso
O mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante

Olha o canto da sereia
Ialaô, oquê, ialoá
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantar
E o luar sorrindo
Então se encanta
Com a doce melodia
Os madrigais vão despertar
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz ela semeia
Toda Corte engalanada
Transformando o mar em flor
Vê o Império enamorado
Chegar à morada do amor
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Inaê
Janaína e Iemanjá
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
20 DE JANEIRO - DIA DE SÃO SEBASTIÃO
Para ilustrar esse post, escolhi uma expressiva pintura de Guido Reni, que se encontra no Museo del Prado, Madrid (foto do acervo pessoal, tirada in loco pelo blogueiro).
Curiosamente, ele não morreu dessa forma: seu corpo cravado de flechas foi miraculosamente tratado por uma piedosa cristã, Santa Irene (uma fiel que também foi canonizada). Totalmente restabelecido, Sebastião, para total espanto do Imperador, apresentou-se novamente diante dele, defendendo seus ideais; dessa vez, foi açoitado até a morte. É considerado o protetor contra a peste e epidemias. Mas há controvérsias: o lado “B” da história sustenta que a morte de Sebastião teria sido o ato final de uma trágica trama de paixão e ódio entre ele e o Imperador – por essa razão, ao arrepio da Santa Madra(sta) Igreja, o santo foi tomado como padroeiro dos homossexuais e, por extensão, dos marginalizados em geral. De qualquer forma, mesmo os dados canônicos são incertos – daí ser correto usar exatamente o termo hagiografia, pois não há como falar em biografia histórica. De forma surpreendente e, a princípio, incompreensível, a iconografia clássica do santo acabou sendo utilizada com um viés sexual, erotizando seu martírio. Alguns dos inúmeros quadros que lhe foram dedicadas (e ele foi um dos personagens religiosos mais retratados na história da pintura) chegam a desconcertar pela mistura de dor e sedução. Mas, depois de Freud, não há o que não possa ser explicado. E essa sexualização se disseminou no imaginário popular - vejam só, me lembro até que o Paulo Ricardo pós-RPM fez um álbum intitulado “O amor me escolheu”, no qual aparece na capa caracterizado como São Sebastião...
sábado, 17 de janeiro de 2009
ECOS DA ÍNDIA II

AUSTRALIAN OPEN 2009

O escocês Andy Murray mira muito mais que uma bolinha: segundo os especialistas, ele é o franco favorito para levar o Australian Open de 2009 e consagrar-se campeão do primeiro Grand Slam de sua carreira.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
CRÍTICA: "UM CONTO DE NATAL"
O último filme que vi em 2008, no dia 23, quase véspera de Natal, foi o francês “Um Conto de Natal”, título algo irônico, pois trata-se, na verdade, de um “anti-Natal”, ou, ao menos, muito diferente do Natal como entendido nos filmes do “mainstream”. O enredo gira em torno de súbita doença da matriarca Junon (Catherine Deneuve), que para não morrer necessita de alguém compatível que possa lhe fazer uma doação de medula. Há, também, uma história similar do passado, que decorreu na morte de seu primeiro filho. De certa forma, ocorre uma centralização na figura de Junon e também uma forte polarização com um dos filhos, Henri (Mathieu Amalric), entre os quais se configura uma relação mutuamente impregnada de ódio - ou melhor: desprezo. Mesmo assim, os dramas diversos de cada um dos membros e agregados da família têm seu tempo e lugar no roteiro. O filme mostra, com uma pujante autenticidade que supera as idealizações, os atritos oriundos de pensamentos/sentimentos normalmente incofessáveis nas relações humanas. Em geral, não suportamos nem a fragilidade e nem a sinceridade de nós mesmos e dos outros; nossos atos e diálogos reais são todos “podados” por um cuidado em “não machucar” e nem “ser machucado”, o que nos leva a escamotear verdades brutas para que o cenário de sonhos não seja danificado. Em prol de uma tranqüilidade de superfícies, não mergul
hamos em águas profundas, que certamente podem ser perigosas, mas sem o que a essência dos nossos laços afetivos não é atingida. Na família de “Um Conto de Natal”, essas privações de liberdade não existem, as pessoas sempre encontram alguma forma de se expressar, sem que isso destrua as ligações viscerais que há entre elas. Mesmo quando se agridem, ou principalmente nesse momento, demonstram uma exemplar intimidade, aquela especial intimidade que sobrevive a quaisquer ações ou palavras dos momentos isolados. Cada tempestade, por pior que seja, se esgota por si mesma – e, após o soco no estômago vazio, todos se sentam para jantar e seria possível pedir ao seu “agressor” o favor de passar o azeite, ao que o mesmo atenderia com toda urbanidade. Destaque para a cena do franco diálogo entre a mãe e o filho-problema, à noite, no balanço da parte de fora da casa, um momento-chave paradigmático e que resume, por assim dizer, o “ethos” do filme. Todo o elenco atua de forma elogiável, com especial evidência para a protagonista Deneuve, que representa a essência da alma francesa e prova, cada vez mais, ser um caso raro de talento e beleza que parecem ser eternos. Esse foi, certamente, um dos melhores filmes de 2008, mas não é para todos os paladares: a muitos, parecerá uma chata tergiversação, que nada acrescenta, recheada de absurdos desvios familiares rodrigueanos. Essas opiniões, claro, devem ser respeitadas. Em tempo, graças a Luiz Carlos Merten (vide http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081224/not_imp298414,0.php), descobri que o texto declamado no início é de Ralph Waldo Emerson, escrito como forma de superação da perda de seu próprio filho, cuja leitura provocou a estupefação inicial do diretor, Arnaud Desplechin. Não por acaso, na ceia de Natal, Junon ganha de presente exatamente um livro de Emerson, como poderão ver, de relance, os cinéfilos mais atentos. Cotação: ÓTIMO.
Se digladiam em família e vão ao cinema, digo, à igreja: o filho desprezado, Henri (Amalric), acompanha a mãe, Junon (Deneuve) - mesmo não sendo religiosa, ela tem o hábito de ir à missa do galo na noite de Natal.
OUVINDO NO BANHO - 15/01/09 - A FLAUTA MÁGICA
Entre o Pink Floy da manhã de ontem e a noite de hoje, ouvi muita coisa, mas o momento relaxante do banho foi de quatro árias da “Flauta Mágica”, de Mozart: as duas da Rainha da Noite (“O zittre nicht” e “Der Holle Rache”), interpretada por Wilma Lipp, e duas de Sarastro (“Isis und Osiris” e “In diesen heil´gen Hallen”),
interpretado por Kurt Bohme – ambos sob a batuta de Karl Bohm regendo Wiener Philarmoniker. As fotos dos dois grandes cantores estão ao lado. Essas quatro árias são simplesmente espetaculares e, na extensão vocal, são como que antípodas: o basso-profundo de Sarastro em contraposição ao soprano-coloratura da Rainha da Noite. Esse post é só pra constar o que estou ouvindo no momento, então não é oportunidade, ainda, de falar dessas brilhantes árias e das desafiadoras dificuldades em cantá-las. Mas podem ter certeza que vou voltar ao assunto.TÊNIS - REVENDO RAPIDAMENTE 2008
Federer (esq.) e Nadal (dir.) , já de noite, tiram fotos com os troféus de vice-campeão e campeão logo após o encerramento da final de Wimbledom 2008: esse jogo foi o momento-chave da passagem do bastão de primeiro do ranking.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
ESCOLAS DE SAMBA
Vamos falar de um assunto que gosto muito: Carnaval. No caso, em particular, Escolas de Samba. Pode parecer estranho, afinal, sou praticamente um peixe fora d´água, nunca morei no Rio, nunca freqüentei quadra das Escolas e só fui pessoalmente à Sapucaí em uma única oportunidade. Mas sempre gostei da cultura dos desfiles, dos sambas-enredo e da pujança dessa manifestação cultural. Assim, fui “plugado” nesse mundo via “ponto de luz na imensidão” (ou seja, a TV, segundo uma descrição poética do último enredo que o Joãosinho Trinta fez na Beija-Flor), que há um bom tempo já faz as transmissões que mostrando um pouco daquele espetáculo, levando-o mesmo a nós que estávamos tão longe de tudo aquilo que acontecia. Naquela época, anos 80, era difícil ter notícias do mundo das Escolas... de vez em quando uma nota nos jornais (em particular nos do Rio, tais como “O Globo” e “Jornal do Brasil”), às vezes uma matéria de meia página ou página inteira, o que já era pra festejar. Em janeiro, nos telejornais locais cariocas, exibiam matérias mostrando algo dos preparativos nos barracões e dava para ter uma pálida idéia do que as Escolas estavam preparando. Mas as notícias eram precárias, tudo só seria revelado durante o deslfile em si, no dia do carnaval (lembrem-se, até 1983 os desfiles do grupo principal era num só dia, domingo; daí veio o sambódromo em 1984, com a novidade de dois dias). Mas a internet, como todos sabem, revolucionou nosso acesso à informação. E não poderia ser diferente com relação ao samba. Hoje em dia, temos acesso on-line às informações em questão de minutos ou até segundos. Há sites ou colunas especializadas, com jornalistas e aficcionados que, para nossa total satisfação e com todo nosso agradecimento, fazem nossa ligação com o agitado mundo das agremiações. Se alguém quiser conferir, eu acesso quase que diariamente três sites que me mantêm informado:
ECOS DA ÍNDIA I

N A M A S T Ê !
OUVINDO AO ACORDAR - 14/01/09 - PINK FLOYD
"WISH YOU WERE HERE" - PINK FLOYD. terça-feira, 13 de janeiro de 2009
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