sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

DESFILES 2009 - RESENHA RÁPIDA

Sobre os resultados do desfile, vou ser muito sucinto nesse momento. Devo comentar notas “estranhas” após a divulgação das justificativas dos jurados e, no decorrer do ano, vou enfocar assuntos e momentos particulares do desfile. No momento, vou me apenas esboçar minha avaliação geral:

Salgueiro começa seu desfile na segunda-feira de Carnaval

O Salgueiro foi campeão com toda justiça. É verdade que o samba-enredo não era nenhum primor, mas estava longe de ser ruim, e serviu adequadamente à empolgação dos componentes e das arquibancadas. O enredo foi de um desenvolvimento exemplar e era a cara da escola, o que lhe deu confiança e autenticidade. Já tinha passado a hora de um justíssimo título para a dobradinha “Renato Lage-Salgueiro”.

A Portela, pelo segundo ano consecutivo, surpreendeu a todos positivamente. Embora correndo por fora, se ela ganhasse, não seria injusto. Seria muito bonito tê-la com o vice-capeonato, perdido nos décimos da última nota do último quesito. Espero que a escola consolide essa força nos próximos anos, retornando ao nível do qual nunca deveria ter caído. Parece cada vez mais próximo o dia em que a águia vai voar mais alto de novo... depois dos longínquos 1980 e 1984.

A Beija-Flor estava com cara de Beija mesmo, mas achei muito salutar que ela não ganhasse esse ano. Aliás, será muito salutar que ela não ganhe sempre, como tem acontecido nos últimos anos. É preciso que haja diversidade e autenticidade vencedora nas demais escolas, e parar com essa miragem de todas quererem ser desesperadamente uma “pseudo-beija-flor-melhor-que-própria-beija-flor” – verdade seja dita, as diretrizes das avaliações dos jurados têm sido os maiores culpados por essa miragem...

A Vila Isabel fez um belo carnaval e a união, muito arriscada, de Alex com Paulo acabou dando um resultado viável na avenida. Seria uma vitória justa, mas não acho que a quarta colocação seja totalmente injusta, o que só mostra como havia um certo equilíbrio e que o ligeiro favoritismo do Salgueiro não excluía outras possibilidades. Paulo Barros deve sair da escola, o que acho de bom agouro para ambos.

A Grande Rio, depois daquele belíssimo terceiro lugar até então inédito que o Joãosinho Trinta lhe proporcionou com “O Brasil que Vale”, perdeu o pé e se tornou uma verdadeira “empresa de samba”. Ou, como vi um analista citando, uma espécie de “clube com bateria”. A escola sofre de uma ânsia de gigantismo e de uma busca de vencer a todo custo que desanima qualquer amante dos desfiles-que-não-existem-mais. Mesmo que visualmente suntuosa, a escola não merecia sequer estar entre as campeãs.

A Mangueira se salva pelo samba e pelo chão firme, mas fiquei assustado com o trabalho decepcionante do Roberto Szaniecki. Ele havia feito ótimo trabalho de alegorias e fantasias na Grande Rio, o que nos dava uma impressão de que traria uma Mangueira positivamente exuberante, mas a realidade foi um desfile de alegorias ou incompletas ou em desmanche. O 6º lugar ainda saiu no lucro.

Das demais escolas, gostei do jeito leve da Imperatriz (e do samba que muitos torceram o nariz), vi sinais preocupante de esgotamento na Tijuca (a escola já está se mexendo para se renovar), a Porto da Pedra e a Mocidade, mais uma vez, se posicionaram como pretendentes preferenciais ao rebaixamento (triste ver a Mocidade, que teve três períodos áureos quase ininterruptos com Arlindo, Fernando e Renato, nessa decadência contínua). A Viradouro foi um caso à parte, muito criticada, mas também muito incompreendida (no futuro vou escrever um post sobre a beleza desse enredo que une energia e orixá).

A maior injustiça desse carnaval e da última década veio de onde eu menos esperava: o massacre injustificado que o Império Serrano sofreu dos jurados. É inacreditável. Só uma coisa explica: os jurados já dão a menor nota pra primeira escola do domingo e passam a julgar as demais, sempre dando notas maiores. Gente, ver o desfile do Império foi a ocasião de presenciar a manifestação de uma escola atual autêntica nesses tempos bicudos. Teve evolução perfeita. Teve harmonia ecoando nas vozes dos componentes e das arquibancadas. Teve o melhor samba do ano (pelo menos ninguém ousou dar nota menor que 10 nesse quesito). Teve a melhor bateria, com paradas (“bossas”) arrepiantes – e ainda perdeu décimo nesse quesito! Mesmo as alegorias, que alguns acusaram de serem “pequenas” (e por acaso “tamanho” é critério para tirar ponto?), estavam totalmente dentro do enredo e com acabamento perfeito. A escola merecia tranquilamente estar no sábado das campeãs. E, num mundo de sonhos, se fosse campeã, não só seria justo, como poderia ter feito uma revolução histórica em prol de uma forma simultaneamente moderna e tradicional de se fazer escola de samba...

Império Serrano abriu o desfile no domingo: o grande injustiçado do ano.

Essa “maldição-da-abertura-de-domingo-pela-escola-que-sobe” nos faz pensar que a União da Ilha tem um motivo para celebrar (porque nesse ano, finalmente, subiu do Acesso e vai voltar ao Especial) e outro para chorar (porque, nesse padrão inglório imposto, o prognóstico é que vai ser rebaixada no ano que vem...). Mas vou torcer ferrenhamente para que a Ilha fique entre as grandes. É uma escola que merece.

Por fim, a melhor análise sobre os resultados que eu li foram feitas por Luis Carlos Magalhães. Concordo com praticamente tudo que ele disse. Vá direto à fonte e cesse em: http://odia.terra.com.br/carnaval/memorias.asp.

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